tag:blogger.com,1999:blog-73460410464780618212024-03-13T08:41:56.661-07:00Poesia, Futebol e Rock 'n' Roll"Fabricio, faça um blog" ou "Tá na hora do Fabricio fazer um blog" Ouvi várias frases como essa, e resolvi fazer. Misturar os três elementos acima, é muito possivel. Vou tentar, vocês me ajudam?Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.comBlogger77125tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-60461985665974642892021-08-17T08:45:00.001-07:002022-03-21T18:06:09.609-07:00 Pink Floyd, Cartola, Bowie e Baião<p><span face="Calibri, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: 11pt;">Posso ouvir sua voz</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Não entender suas palavras</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Uma canção dos Beatles fora de época</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Mas o amor suporta</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;"> </p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Posso não saber falar</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Você não escuta o meu som</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Um tango desritmado</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Mas o amor comporta</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;"> </p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Somos o desencontro das ideias</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Você pede chá e eu sirvo cerveja</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Um samba descompassado</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Mas o amor que importa</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;"> </p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Somos as tentativas e os erros</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">O acerto do tempo sem razão</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Somos Pink Floyd com Cartola</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">Somos David Bowie com baião</p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;"> </p>Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-12066972561735725022020-08-24T19:42:00.002-07:002020-08-24T20:10:44.305-07:00Ela estava certa, foi preciso mudar o samba...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>Ela estava certa o tempo todo. <div><br /></div><div>O samba atravessado, rápido e com rimas fracas seria mais um desfile sem brilho, com muita transpiração e pouca inspiração, quase como tinha sido nos últimos carnavais. Era o momento de entender a realidade, descobrir que a falta de recursos deveria ser encarada como uma grande chance de inovar, que do chão trincado da quadra ainda brotava alegria e que mesmo no pior momento, o sonho não poderia parar. </div><div><br /></div><div>Então mudaram a comissão de frente, uma coreografia mais simples, mas muito bem ensaiada, o carro abre alas também ganhou um chamado "toque minimalista" e acabou combinando melhor com a comissão, com isso a escola começou a ganhar não só um novo corpo, mas uma nova alma. </div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-X04RvpQZAsU/X0SAVXnlW1I/AAAAAAAAU2I/oNAG2X4yxlUXMOelgx5L3Wywq-mNsLV6ACLcBGAsYHQ/s353/samba%2B1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="259" data-original-width="353" src="https://1.bp.blogspot.com/-X04RvpQZAsU/X0SAVXnlW1I/AAAAAAAAU2I/oNAG2X4yxlUXMOelgx5L3Wywq-mNsLV6ACLcBGAsYHQ/s0/samba%2B1.jpg" /></a></div>Cada diretor de ala entendeu o recado, alguns cansados passaram o bastão para os mais novos, que chegaram com uma vontade gigante em fazer o melhor para aquela velha, porém querida escola. Começaram também a mudar a forma de desfile, tentando diminuir erros de evolução e harmonia. Os carros foram reformados, as fantasias passaram a ser pensadas com mais carinho, passistas se empolgaram e o povo do barracão trabalhou ainda com mais afinco. </div><div><br /></div><div>No coração da escola o velho e apaixonado mestre ganhou um parceiro, a bateria mesmo com instrumentos cansados manteve a paixão e ganhou jovialidade, a comunidade sentiu o chamado logo nos primeiros ensaios, era um toque, um batuque conhecido, mas com um encanto diferente... </div><div><br /></div><div>Ela estava o tempo todo certa! Era preciso mudar o samba, reconhecer seu povo, ficar mais leve, divertida, simples, mas sem perder o glamour e a imaginação.
E naquele Carnaval, a velha escola conquistou seu mais importante título, a escola e seu povo se reconheceram, se identificaram e voltaram a se apaixonar... </div><div><br /></div><div>Pouco importa quem ganhou o carnaval, a vitória daquele povo foi maior que qualquer nota de juiz.
E foi ela quem avisou, o samba estava atravessado! </div>Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-58802596034601686692020-04-13T21:47:00.000-07:002020-04-14T07:06:16.487-07:00As tardes de domingo em 1988 <br />
A macarronada da minha avó Jacyra estava divina, sentada em seu quarto a tia Benê com o radinho ligado ouvia as informações do jogo da tarde, o seu Orlando Vermelho (meu avô) falava sobre as eleições daquele ano com o Tio Fábio e a minha prima Alessandra fazia uma tremenda onda para comer seus nuggets… Eu tomava com muito gosto meu último gole de "Coca-Cola". <br />
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Naquela época, aos dez anos eu já adorava política, vivia aquilo como o futebol. Éramos torcedores do Miné, não era só uma eleição para prefeito, era como se fosse um clássico no Morumbi lotado. Mas naquele domingo a pesquisa da Gazeta de Taubaté pouco me importava, muito menos o que o Salvador (o outro candidato) tinha dito. <br />
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Naquela tarde, levantei rápido da mesa, tomei alguma bronca de leve do Seu Orlando, a tia Edna deve ter falado algo também, e a Vó perguntou se meu pai vinha me buscar, respondi que sim e que o Tio Tadeu também iria com a gente. Enquanto o tio despedia dos demais, eu já estava sentado na mureta na porta da casa. Não demorou muito e meu pai com sua "Variant" branca ligada na rádio passou para nos pegar rumo ao estádio… Naquela tarde paramos perto da casa da Tia Ivone, atravessamos a linha e de cara deu para observar, a "Casa" estava cheia! <br />
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Era o momento mais feliz de todos para um garoto de dez anos… Nem mesmo o hambúrguer da "Fino Coffe", a pizza do "Convênio" ou mesmo a piscina ou partidas de futebol de salão na AABB, nada era mais legal que aquele clima de "Joaquinzão". Tinha gente apressada, barulho de fogos, vendedores de laranja já descascada naquelas redinhas amarelas, tinha bandeiras, de todos os tamanhos e modelos, sempre nas cores azul e branca. Nessa época ficávamos atrás do gol de entrada, às vezes encontrava no caminho ou já lá no estádio com os amigos, era o Leandro, Rodrigo, os irmãos Miragaia, o Reginaldo santista do "Dom Pereira", o Dimas (que vivia querendo bater em mim), tinha o pessoal da Vila Marli que ficava perto da Torcida Explosão (que depois fundaram a Dragões)<br />
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Geralmente fazia muito sol, eu e meu irmão Fabinho, estávamos sempre com bonés e nada nos faltava, laranja, refrigerante, picolé, água… E o palavrão do portão do estádio para dentro era liberado! O time entrava em campo com muitos rojões (grande Maciel) e com cinco minutos de bola rolando o talco ou pó de arroz fazia uma fumaça branca… A bandinha de carnaval vinha tocando o tradicional "poropópó", e o povo ia se levantando, a Explosão abria caminho para seu lugar na arquibancada. <br />
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Em campo nosso time era ótimo! Meus ídolos eram o Marcelo (goleiro), o Neto, Alberto, Careca, Miguelzinho e Reinaldo Xavier. Meu pai era fã do Alencar nosso camisa cinco. Tinha também o Daniel, Fagundes, Ailton… Como era legal!<br />
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Não vou lembrar do empate contra o Catanduvense que nos tirou a chance de subir. Aquele campeonato de 1988 foi muito maior que aquele jogo! <br />
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Foi a primeira vez que a minha geração viveu com tanta intensidade um campeonato, o time da cidade passou a ser nossa prioridade. O Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos passaram para o segundo plano. Nossas conversas eram sobre o Taubaté. No rachão da rua ou na quadra improvisada da escola, éramos o Burrão da Central, até a minha capa da prova foi um desenho da nossa torcida com faixas das torcidas Explosão e Camisa 14. <br />
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Naqueles domingos de 1988 aprendi a ser torcedor de verdade. Não subimos, o nosso candidato a prefeito perdeu feio a eleição e um pouco depois meu pai foi transferido para Santos (onde acabei passando uma temporada). Talvez, tenha sido uma época complicada para os meus pais, hoje sei que o momento econômico do país era péssimo, mas mesmo sendo curioso e leitor voraz da Folha em casa e do Diário Popular no meu avô, eu ainda era um menino que sonhava em ser jogador de futebol e gostava da Vanessa que morava perto da minha antiga casa na Monção (Gláucia você foi um ano antes) e tenho essa época guardada com muito carinho no coração. <br />
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Em 1988 foi assim, teve o título do Timão com o gol do Viola, tinha as aulas de judô, teve as olimpíadas de Seul, a querida professora Maria Imaculada (que hoje mora no céu), ainda jogávamos Atari e fazíamos fabulosos campeonatos de futebol de botão, mas nada foi mais marcante que as tardes de domingo no Joaquinzão… <br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/--4SsSzB5PtE/XpXC3pR3raI/AAAAAAAAUS8/bcn8Uta7pp8W_k2Z8R6FgA-KwtgYe1olwCLcBGAsYHQ/s1600/IMG-20200414-WA0024.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/--4SsSzB5PtE/XpXC3pR3raI/AAAAAAAAUS8/bcn8Uta7pp8W_k2Z8R6FgA-KwtgYe1olwCLcBGAsYHQ/s320/IMG-20200414-WA0024.jpg" width="320" height="176" data-original-width="1280" data-original-height="702" /></a></div><br />
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Foto: Pedro Nogueira<br />
Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-45971764148115876662020-01-06T15:35:00.000-08:002020-01-06T15:35:31.809-08:00Ela... Ela parece sol que não queima, que ilumina, que deixa a cabeça fresca e o coração mole. É água de coco gelada, suco de abacaxi com hortelã, mas também é tequila, com limão e sal<br />
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Deixa as pernas moles, ideias bambas, as vezes bolero, tango e rock! Me confunde, explica, excita e encanta, parece dança, um samba, de muitas notas que toca nos sonhos<br />
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Vida e flores, seja livre, somos livres, juntos.<br />
Poesia e crônica, fotos e livros, linda imagem, doce sensação!<br />
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Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-28172667730420115122018-07-24T07:37:00.000-07:002018-07-24T07:37:09.302-07:00As cores de um sábado na quebrada A luz do sol quase cegava a vista já embaralhada depois de tantos socos, depois de chutes... Uma poça de sangue era o contrataste em cores daquela calçada sem cor, seca e quente. Pensamentos perdidos, estímulos para tentar se mexer e recebeu mais uma pancada, dessa vez de uma barra de ferro, agora a mente apaga, volta, apaga, vem um sono...<br />
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Era apenas mais um dia quente no inverno seco de São Paulo. Mais um final de semana em uma das tantas “quebradas", tinha pastel, o caldo de cana, cigarro, e um corte na cachaça do “parceiro”. Mais resenha, depois veio o espetinho, uma cerveja gelada, apareceu alguém com um “fino”, um tapinha, risada, futebol, as mulheres, os “trampos” e “corres”, pagode alto, barulho do ônibus e a poeira subindo. As meninas também colam no rolê, a amizade é firmeza e rola o respeito. <br />
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O sábado pintava em cores diferentes a realidade cinza de jovens, crianças, adultos, do povo daquele pedaço de chão. Tinha pipa no ar, jogo de baralho na mesinha da praça, vendedor de sorvetes, um pregador religioso aos berros, bancas de mídias piratas, roupas, camisas de times, frutas e até livros. Um colorido de felicidade, de luzes e sons e sorrisos. <br />
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Um sobressalto no peito e um grito no ar, o colorido volta a perder a cor, as pessoas correm desordenadamente, uma criança em prantos é “resgatada” por alguém, carros acelerando, motos barulhentas e o sábado agora é feito em socos, pedras, chutes, barras de ferro e madeira... A quebrada foi invadida e ninguém teve tempo para nada, era um acerto de contas, nenhum tiro, alguns correram, a pouca polícia assistindo, tudo muito rápido e o jovem dormiu entre a calçada e o asfalto, ninguém sabe se ele acordará, ninguém. <br />
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Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-36177129385412217642018-05-22T10:07:00.001-07:002018-05-22T10:07:04.582-07:00Ana Júlia Ana Júlia não era a música, era agora um número, mais um número sem cor, reação ou vida. Não era mais a menina bonita que na infância tinha festinhas da Xuxa e da Moranguinho, também não era a adolescente apaixonada por “New Kids oh the Block “ e que na escola distribuía seu caderno de perguntas aos amigos e principalmente ao paquera da sétima série. Ana Júlia agora é número. <br />
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Estudou, brincou, jogava vôlei, juntou muitas economias para comprar seu primeiro telefone móvel, adorava ir a balada nos finais de semana, aprendeu a beber, fumou “Gudan”, pulou carnavais no clube, teve namorados, e adorava comida mexicana...<br />
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Até que conheceu alguém, que tocou seu coração. Era de outra cidade, um “moço bom”, diziam suas tias, o “gente boa, amigão”, segundo seu irmão e primos, o “genro dos sonhos, o cara ideal... Não gostava de sair muito, não comia no “mexicano “ e aos poucos foi mostrando que não era apenas seu carro do ano, sua casa na praia ou a conta bancária que era sua, Ana Júlia também. <br />
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Então, na primeira discussão veio a primeira ofensa, depois entre outras, um empurrão até um forte tapa no rosto. <br />
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Ana Júlia passou a viver um relacionamento abusivo. E não sofria apenas dores físicas. A psicológica era como um mar, que a separava da família, dos amigos, da vida que tanto amava . Era uma mulher aprisionada no medo, não conseguia romper o silêncio que a calava, vivia o terror como se fosse um dia comum. Não foram apenas tapas, os estupros passaram a ser parte de sua vida. Sua única luz era a bebida ou mesmo algum calmante que comprava escondido. <br />
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Uma noite acabou perguntando sobre uma amiga que sempre ligava para ele... Acabou sendo espancada mais uma vez, naquela noite, ela contaria sobre sua gravidez, mas não conseguiu, mais uma vez humilhada, em estado de choque, com o coração em frangalhos, escolheu ter uma noite mais longa de sono, e não tomou apenas calmantes...<br />
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Após a surra, ele não ficou para dormir em sua casa, ele não estava lá na manhã seguinte, aliás, ele desapareceu por um bom tempo. Ana Júlia dormiu para sempre, virou mais um número, de um país que está matando suas mulheres. <br />
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Estatísticas apontam que a cada uma hora e meia, morre uma mulher vítima de feminicídio no Brasil. <br />
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Que tenhamos menos números e mais Ana Julias da música... <br />
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Não se cale diante da violência contra a mulher. <br />
Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-13261506727808467152018-04-04T14:06:00.000-07:002018-07-26T08:37:51.443-07:00Flávia, Pedro e a bala de hortelã Um amor sem tamanho e juízo, nasceu sem planos e motivos, bastou um sorriso em uma tarde de domingo na praça.<br />
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Pedro jogava conversa fora com amigos, lembrava de passagens divertidas, dos dias de calor no ribeirão, as peladas no campinho, pipas, jogo de taco e até dos primeiros porres em um carnaval qualquer no clube. Apenas de bermuda, sandálias e peito aberto… Um dos sujeitos mais queridos e divertidos da cidade. Um coração do tamanho da alegria daqueles que o cercavam na mesa do boteco da praça.<br />
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Flávia era moça de cidade grande, mas tinha sangue dali, estudada, falava diferentes idiomas e conhecia tantos mundos… Uma voz encantadora, artista nata, com paixão por artes plásticas e poesia. Naquele domingo, ao passar pelo boteco, sentiu-se flutuar e sorriu instantaneamente. Um calor, uma aperto no peito, e a uma música ao fundo que jamais sairia de seu coração.<br />
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Demorou mais alguns dias até um reencontro. Pedro também vivia em cidade grande, já era quase doutor advogado. Flávia estudava para ser professora, cantava no coral, ajudava em projetos sociais dentro da pastoral de sua igreja. Era fã enlouquecida dos “Rolling Stones”. Pedro praticava basquetebol e fazia discursos onde pedia além de justiça, igualdade, liberdade, mais humanidade das pessoas do poder. Era fã do Belchior, do Chico Buarque e da Alcione, e torcia para o Botafogo. O reencontro foi sem querer, no ônibus para a “terrinha”, ela sentou em uma poltrona ao lado da dele, entre eles um corredor e a ressaca de Pedro. Quando despertou quase chegando, ela ofereceu uma bala de hortelã, ele aceitou e conversaram…<br />
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<b>Finais de semanas mágicos</b><br />
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Flávia aceitou a companhia até o portão da casa dos avós. Ele caminhou até sua casa, do outro lado da cidade. Até chegar em casa, fumou um “careta” e no caminho estava em outro mundo, com apenas a voz e o sorriso dela. No fim da tarde, foram ver um show de um conjunto de samba no mesmo boteco de sempre. Não dançaram, mas parecia que sim, de mãos dadas saíram para dar uma volta e trocaram o primeiro beijo…<br />
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E foram tantos beijos e abraços, muitos finais de semana, dias de sol, novos amigos, conversas longas, experiências, diferenças, queijo e goiabada, risadas soltas, café na avó da Flávia, causos do tio do Pedro, macarronada, banho no ribeirão, cervejas, “Cuba Libre”, e nos finais da tarde daqueles domingos, antes de voltar para cidade grande, ele quase sempre festejava uma vitória do seu Alvinegro. E quando Flávia disse que não ligava muito para futebol, mas gostava do Fluminense, ele achou divertido.<br />
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<b>Foram dias de desafios</b><br />
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A vida era distante e fria na cidade grande. Não podiam se ver constantemente, estavam em momentos decisivos, compromissos não só estudantis, eram cidadãos na acepção da palavra. E nesses momentos não existiam domingos de sol, mas de cobranças e censura. De coragem e medo, que andavam lado a lado, de certezas que eram diluídas em perseguições e prisões. Não eram apenas dias de chumbo, eram nomes trocados, receita de bolo em jornal, de torturas, e vozes que mesmo no sufoco não se calaram.<br />
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Pedro escrevia, sua arma era uma velha máquina de escrever, os fatos apurados com cuidado e a certeza que faria o registro de sua época. Não deitava seu olhos. Era o coração imenso do interior, mas rasgava em palavras, verbos e alguns adjetivos aqueles que inventaram e bancaram a tristeza. Flávia multiplicava o conhecimento, fazia de sua voz uma canção libertária de luz, baseada em fé e educação. Contestava com conteúdo, incomodava com ternura, suas aulas eram marcantes e reais.<br />
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Os finais de semana na “terrinha” ficaram raros. A vida e os dias passam rápidos demais. E mesmo vivendo a mesma realidade, diante do inimigo comum, acabaram distanciando. A luta fez sua parte, enquanto Pedro buscava um utópico diálogo, tentava ser legalista, dando murro em ponta de faca, Flávia era a ponta da lança, o dedo no gatilho, o olhar acuado do oprimido, a reação da ação desproporcional dos opressores, sua arte agora era não morrer.<br />
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<b>E tudo ficou ainda mais difícil</b><br />
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Pedro perdia suas batalhas e espaços, não existia mais trabalho, tentou mergulhar na “terrinha” por alguns dias, mas não tinha sentido sem Flávia. O mundo estava estranho, até mesmo sua Estrela Solitária não brilhava. Pouco ficou por lá, já não recebia tantos sorrisos, o garoto que foi criado naquelas ruas, o coroinha mais desastrado da Matriz, era visto com desconfiança e até temor em seu próprio quintal. Em um canto qualquer, Flávia sofria em dor. Alvejada em uma ação, lágrimas silenciosas, faltava Pedro ao seu lado, faltavam sonhos e até mesmo as lembranças eram escassas. Sua única ideia era permanecer viva.<br />
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Em uma tarde de muito frio, com pouco dinheiro, um microfone mudou a vida de Pedro. Com palavras incisivas e diretas, foi cirúrgico em suas críticas, seu coração buscou inspiração em seu amor, em suas crenças, em seu caráter, naquela tarde a voz de Pedro foi a canção de Flávia, foi coração e lança, sentiu uma emoção semelhante ao olhar trocado na praça, sentiu Flávia ao seu lado, sua energia, seu amor.<br />
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<b>E veio a distância…</b><br />
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No rabo de um foguete deixou a pátria amada. Pedro não tinha mais o macarrão na casa dos pais, não podia usar sandálias e ficar sem camisa no banco da praça. Agora a realidade era fria, outro idioma, uma dor constante no peito, perdido de razão, odiando cada detalhe, vivendo um dia de cada vez, um exilado que só havia escancarado amargas verdades. E fez disso sua sobrevivência, fez a única coisa que poderia fazer, além de sentir saudades de Flávia, escrever.<br />
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Flávia foi vivendo como podia, clandestina, perdeu a identidade, família, amigos, menos sua fé e amor. Ainda tinha a música, mas não conseguia sorrir, assim um dia acabou caindo. Não tinha energia para resistir, seguiu toda cartilha odiosa da tortura, dor e humilhação. Conviveu diariamente, com longas conversas com a morte. Aliás, flertou com o fim, quase perdeu sua vida.<br />
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<b>Palavras e canções que salvam<br />
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As verdades antes amargas, ajudaram a libertar vidas. Eram muitos “Pedros” nas feridas abertas, o sangue de tantas “Flávias” era uma nódoa de horror, a vida precisava florescer e o sol voltou a brilhar. Voltaram muitos irmãos e irmãs do Henfil. O verde-oliva das fardas precisava se livrar da podridão e apesar de tantos “vocês” o amanhã já era um novo dia.<br />
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Pedro voltou sem alardes, ninguém o esperava na cidade grande. Quando chegou, respirou o máximo que podia. Sentiu o calor que tanto lhe fez falta, tomou sozinho um copo de garapa, pisou em um jardim e foi direto para a rodoviária, precisava de sua “terrinha”. Flávia já estava nas ruas há algum tempo, não cantava e perderá parte da visão, não tinha mais familiares vivos na “terrinha”, abdicou da fé, pois fora obrigada a perder um fruto dos seus dias de horror.<br />
<br />
<b>E o tempo fez sua parte</b><br />
<br />
Cicatrizou algumas feridas, outras eram impossíveis. Apresentou terríveis vilões, a realidade ainda era difícil, a dor recente e a liberdade engatinhava. Na “terrinha” o ribeirão continuava límpido, o boteco estava um pouco mais “chique”, a missa das crianças ainda eram aos domingos pela manhã e o Botafogo de Pedro nunca mais havia conquistado um campeonato. Pedro não refez totalmente sua vida, tinha um pequeno jornal, advogava, reencontrou amigos, não gostava da cidade grande e convivia com a ausência do amor. Flávia sumiu no ar, ninguém sabia por onde andava ou vivia. Ela escolheu a solidão, suas dores eram muito mais profundas, sentira a guerra na pele, nos ossos e na alma.<br />
<br />
Um dia Flávia comprou balas de hortelã, viajou até a “terrinha”, era uma mulher muito diferente, discretamente assistiu de longe Pedro proseando no boteco, sozinha caminhou até o ribeirão, passou pela porta da casa que viverá seus avós, andou por outros pedaços da cidade, e antes de partir no fim da tarde, sentou-se em dos bancos da praça, que estava quase vazia e sentiu uma emoção muito forte… Pedro estava lá, ele sentiu o mesmo. Olharam-se, não trocaram palavras, ela ofereceu uma bala de hortelã, ele aceitou…Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-78735570453608977052018-03-27T18:38:00.001-07:002018-03-27T19:54:49.252-07:00Quem? Era só mais um fulano sem lar, sem teto, eira, beira, berço, cama e mesa. Rosto feio, cabelos de fogo, sardas, barriga de verme e cabeça de lua. Sem conhecimento, quase xucro, um andar desengonçado e um olhar ingênuo.. Tinha vergonha do espelho, não conhecia as letras, contava nos dedos o que sabia dos números e pouco tinha fé .<br />
<br />
Apanhou da vida desde que se percebeu no mundo. Era desprezado pelos irmãos, sem pai e uma mãe enferma. Foram muitos socos e pontapés, um tapa no rosto era quase um carinho. Era o frio da alma, o silêncio da indiferença, o choro sempre contido e abafado de um medo cheio de sentidos.<br />
<br />
Sua mente bailava entre lágrimas e soluços, seu sonho eram noites de tempestades. Seu desespero uma verdade e seu espírito o cansaço de inglórias e fracassos. O coração pulsava a solidão, em seu sangue o rancor quase justo, nas entranhas o ódio de todos os tempos.<br />
<br />
Quando a morte chegou, esboçou um sorriso e pela primeira e única vez agradeceu, só não se sabe a quem...<br />
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Quem?Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-78069619631378972522018-02-07T08:01:00.000-08:002018-02-07T08:01:41.993-08:00Um jornalista perna de pau Pela última vez ouviu o barulho das travas em contato com o cimento batido daquele vestiário humilde, sentiu o suor escorrer, a oração aos berros, um Pai Nosso, a Ave-Maria, um por todos, todos por um, nenhum aplauso e algumas vaias. Sentiu o ar quente daquele começo de dezembro, quase a mesma emoção do primeiro dia, mas o joelho gritava, o corpo quase não obedecia e o coração sentia...<br />
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A camisa era leve, já havia vestido algumas bem pesadas, daquelas que envergam varal, carregadas de paixão e vida. A dividida e a queda, a ajuda do adversário mais jovem com um olhar admirado, um toque de primeira, a corrida mais curta, conhecia os atalhos, mesmo naquele gramado ruim com uma camisa quase desconhecida. A qualidade na bola parada ainda era a mesma, a precisão parecia ser ainda melhor, na última volta do ponteiro uma falta certeira, seu grito quase em desabafo, o abraço dos colegas e uma satisfação ímpar. Naquele momento não havia mais dores, falta de ar, cansaço ou tristeza, um lindo gol! <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-KjHUzAk8O00/Wnsirld8RrI/AAAAAAAAKd0/4959jtSmhMY9dmcY50EdB7cS5u2DUbr8ACLcBGAs/s1600/careca%2Be%2Bluiz%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-KjHUzAk8O00/Wnsirld8RrI/AAAAAAAAKd0/4959jtSmhMY9dmcY50EdB7cS5u2DUbr8ACLcBGAs/s320/careca%2Be%2Bluiz%25C3%25A3o.jpg" width="320" height="240" data-original-width="800" data-original-height="600" /></a></div><br />
Voltou para o segundo tempo, quase não foi mais acionado, acabou sendo substituído alguns minutos depois, ouviu alguém o xingando de algum palavrão... Sorriu, desceu as escadas, e não esperou o fim da partida. Aliás, ele não sabe, não quer saber o resultado. Ele apenas sabe, que amou cada minuto de sua vida, daquele esporte, e dos sonhos realizados e não realizados. Não voltou, parou pleno, feliz, mesmo em um campo ruim, um empate insosso em uma cidade que ninguém lembra o nome. <br />
<br />
Nesse último dia, agradeceu aos céus pelo talento e principalmente por não ser um jornalista perna de pau, que sempre sonhou em ser o personagem dessa crônica. Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-33959261422496421022017-12-18T16:00:00.002-08:002017-12-18T16:00:47.097-08:00Aquele Reino... <br />
Em um reino não muito distante, existia uma turma, aquela “panelinha” de sempre... Não eram amigos, na realidade, alguns apenas se aturavam, mas em busca de um mesmo “ideal”, dançavam a mesma música, uma moda arrastada e ruim, que ninguém gostava de ouvir, mas todos batiam palmas. <br />
<br />
O Rei sentado em seu trono, saboreava um pedaço de carne podre, a Rainha era bela e vivia um conto de fadas, os ministros gargalhavam descontroladamente como idiotas úteis, os secretários se esbaldavam de restos, existiam também os assistentes que praticamente mendigavam farelos, enquanto os soldados massacravam as pessoas que sustentavam aquele circo de horror <br />
<br />
No canto do salão um insatisfeito gritava, alguns bêbados aplaudiam, as prostitutas contavam notas, o juiz envolto em sua leitura interminável, os estudantes dormiam, a igreja endossava e o único jornal publicava receitas de tortas de maçã. <br />
<br />
Aquele reino respirava o passado. Mesmo colorido, mesmo vivo, mas assassinando todos os dias o amanhã. Um reino escancarado, malicioso, explícito na sacanagem. O reino tinha uma enorme tristeza pela frente, mas que ninguém sentia, afinal a modinha ruim ditava o passo, lento e enfadonho. <br />
<br />
O reino era tão improvável, que até o bobo da corte vislumbrava o trono. <br />
<br />
Ninguém sabe o que aconteceu com aquele reino, ninguém... Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-16777625388430230302017-11-29T09:22:00.000-08:002017-11-29T09:22:32.894-08:00O Mundo de JuvenalJuvenal quase não tinha amigos, pouco conversava com seus irmãos, esquecido muitas vezes, era apenas um corpo magrelo que pedia bênção e apanhava sem motivos. Tinha apenas um par de sapatos velhos, uma sandália achada na rua e poucas trocas de roupas. Seus óculos eram doados por uma igreja, mas ele não sabia rezar e fugia das missas.<br />
<br />
Tinha medo das brincadeiras de rua, não gostava de falar muito, nunca havia tentado andar de bicicleta e também nunca havia chutado uma bola de futebol. Na escola, só pensava na merenda, sentia verdadeiro temor da professora que sempre gritava, tinha vergonha em não entender o que a maioria das pessoas falavam.<br />
<br />
Havia apenas um lugar onde sentia-se bem, onde vivia sua felicidade, ouvia, entendia,conversava, era seu momento de alegria maior, as águas do rio que cortava sua pequena cidade... Brincava com os peixes, imaginava grandes e mágicos seres vivendo nas águas, nadava muito bem, conhecia cada parte, era como se ele próprio fosse parte do rio. E mesmo, quando outras pessoas, adultos ou crianças, compartilhavam do seu lugar, ele parecia alheio, não notava ninguém, era seu mundo.<br />
<br />
Um dia, Juvenal, aos nove anos completos, desapareceu nas águas. As pessoas demoraram muito para perceber. Nenhum colega, nenhum irmão, até mesmo a mãe, que apenas sentiu falta, pois não tinha recebido o pedido de bênção e já pensava em castigar o menino esquisito.<br />
<br />
Juvenal apenas voltou para seu mundo de água, em paz, para trás, deixou apenas o sofrimentoFabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-21379646765764159662017-11-13T05:59:00.000-08:002017-11-29T17:18:38.974-08:00João João cansou…<br />
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Cansou de ser o “João” do Mané, de correr para nada e cair sentado. Cansou de ser o palhaço, o velho pinguim de geladeira, o pobre desgraçado que sobrevive de migalhas de atenção, coadjuvante coitado, sorrindo para ninguém, calado<br />
<br />
Cansou de levar sempre o mesmo drible, o lado direito. Não tem respeito, caiu como idiota, aplausos irônicos, um Maracanã de risos, uma foto humilhante, sente na alma o desprezo, a indiferença, olhando para o nada, derrotado<br />
<br />
João cansou e reagiu…<br />
<br />
Deu uma pancada violenta, assassina, no joelho da sua vida. Cuspiu no algoz, sentiu a hombridade da vaia, a expulsão gloriosa, a desforra como poderia ser, sem teatro, sem meias palavras<br />
<br />
Desceu pelas escadarias do velho vestiário, recompensado pelo ódio alheio, com a camisa ainda suada de um esforço agora verdadeiro, um troféu vermelho, vivendo para sempre, pleno, consciente, perdendo ou vencendo.<br />
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João deixou de ser o “João” do Mané. Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-82383285621213852112017-10-24T03:34:00.001-07:002017-10-24T06:07:14.137-07:00O Andarilho Um olhar distante e triste, um passo sem pressa, inverno de ventos que cortam a alma, garoa que molha, poça d’agua nas calçadas e um pé molhado, o antigo calçado pouco protegia. Assim caminhava um andarilho sem riso, sem expressão, atônito, perdido em lembranças vazias. Não pede, pouco olha, esqueceu palavras, nem mesmo consegue sentir a agora chuva fina gelada que molha suas roupas. <br />
<br />
Um resto de pão no lixo, alimentando-se por instinto, não existe paladar, não recorda dos odores, sabores, apenas mastiga devagar. Esboça ruídos, algumas lágrimas acabam saindo, é quando consegue água, cada gole lento, parece ser á única coisa que ele entende, parece sentir ou gostar <br />
<br />
Muitas vezes está sentado em um dos bancos da praça. Olha em direção ao chão, e acaba dormindo... O susto é quase sempre seu companheiro de despertar. Então, volta a andar sem rumo, sem álcool ou qualquer droga, nenhum cão o segue fielmente, o próprio não se segue e se desconhece, uma existência que não está registrada, sem nome ou documentos.<br />
<br />
Algumas vezes o andarilho desaparecia, a figura magra, idosa, ficava dias, até semanas sem aparecer no centro da cidade. Quando isso aconteceria, o povo apostava, quando ou se não voltaria do sumiço . Não foram poucas as vezes que perguntavam por ele<br />
<br />
Depois de um tempo, o andarilho já enraizado na cidade, não voltou. Sua vida não contabilizava, não era nem estatística, não possuía nenhum número. <br />
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Ninguém sentiu falta.<br />
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Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-63141147620815138802017-09-28T20:26:00.000-07:002017-09-28T20:26:56.814-07:00A cor da minha saudade é azul Aqueles lindos olhos azuis de uma tarde, ele não esquece, ela esqueceu, talvez. Era trabalho para ele, era mais um passeio para ela, era o verde do banhado, tons de amarelo em flores e tantos sonhos desconstruídos em uma noite fria e triste de julho.<br />
<br />
São cores infantil, da doçura, meninas de queridas travessuras e risos inesquecíveis. São os pés descalços e caretas divertidas, é o bolo de cenoura e a água de filtro de barro, o copo da estrelinha e a certeza que a cor de rosa delas é a mais doce lembrança <br />
<br />
Foram dias de tantas cores, que fez do cinza um tom diferente, que me ensinaram lições para tantas vidas, para tantas páginas em branco, aquela cor de sol de inverno luizense, aquela cor da beira do riacho, a cor do suco de abacaxi com hortelã...<br />
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A liberdade da alma, o querer bem, o amor, tem cores infinitas, mas a cor da minha saudades é o azul, o azul dos seus olhos.Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-79300790292768086852017-07-26T10:43:00.000-07:002017-07-26T10:43:22.000-07:00O roedor de osso Aquele que não contou as jabuticabas, que não contou as pitangas e ficou rindo do tempo. Virei o medíocre, aquele do ego inflado, invejoso que cobiça o talento alheio.<br />
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Meus projetos continuam absurdos, quero conquistar cada coração que conheço, quero abraçar o mundo e ditar regras. Escrever o manifesto do fim do mundo, sem ao menos saber escrever.<br />
<br />
Continuo criando normas inúteis, registradas em atas que nunca serão lidas. Abraço minha imaturidade eterna, celebrando reuniões sociais, discutindo política como um rinoceronte tentando ser o presidente da merda nenhuma. <br />
<br />
E agora, lamento de estar, de ser apenas o roedor de osso. Fico triste em perceber ser o alguém que tem poucas jabuticabas na bacia, que convive com pessoas que talvez sejam menos humanas, que vibram com minha vitória inexistente e celebram as injustiças e um mundo vil e corrupto.<br />
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O Roedor de osso que caminha ao lado do nada. <br />
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Que ama em fraude <br />
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O roedor de osso sem essência. Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-39461580419116756992017-07-17T15:17:00.001-07:002017-07-17T15:17:35.902-07:00O Encontro Em uma noite ele recebeu um telefonema que nunca mais esquecerá... Do outro lado da linha uma voz que informava, sua jovem esposa acabará de falecer, atropelada na região central da cidade. Um soco no estômago, um ar seco e pesado, a cabeça rodando, desespero e nenhuma lágrima.<br />
<br />
Olhou para o berço e viu sua filha de pouco mais de um ano... Não sabia como seria, como viver ou sobreviver sem sua companheira, a mulher, a mãe a parceira de vida.<br />
<br />
Aprendeu na marra, das fraldas ao vestido da festa junina na escolinha, das bonecas, do amor, carinho, sorriso, do choro sentido de ambos pela falta que ela sempre fez... Ela cresceu feliz, com amigos e amigas, tios e tias, primos, primas, avós, e ele, o pai.<br />
<br />
Ele não teve outra mulher, não conseguiu encontrar uma parceira de vida. Ela cresceu ainda mais, virou mulher, estudou, trabalhou, e mudou para perto do mar...<br />
<br />
Ficaram distantes. Ele ligava, queria saber se ela estava comendo direito, se estava bebendo água, como era o dia, a cidade, se tinha namorado... Ela só pensava em trabalho.<br />
<br />
Ele pedia para ela vir mais vezes pra casa, que sempre seria dela, mandava mensagens, comprava os ingredientes da sua comida predileta e muitas vezes ela não vinha. Tinha muito trabalho ou estava cansada.<br />
<br />
Ele queria ir, mas ela pedia, “espera mais uma semana”...<br />
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Um dia ele foi... Perdido em pensamentos de saudades, morreu atropelado, como a companheira que já havia partido há anos.<br />
<br />
Estava mais fácil ver a esposa que a filha.Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-48571472393956304822017-06-20T19:10:00.000-07:002017-06-21T08:07:29.123-07:00Receita de Tristeza Primeiro, lembre-se de dias sem sol, de lágrimas, discussões e mágoas. <br />
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Depois junte um monte de pensamentos negativos e olhares perdidos, mentiras e misture com bastante desilusão...<br />
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Pegue um copo americano e encha de cerveja barata, em outro, uma dose de cachaça industrial, da mais vagabunda. Um trago de cigarro paraguaio ao som de alguma música cantada por alguma dupla de música "sertaneja universitária" atual.<br />
<br />
Acrescente também a fatura do cartão de crédito estourada, o desemprego de meses, a vizinha chata, a pregação religiosa, o ônibus atrasado, ser enganado e um tornozelo torcido... <br />
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Finalize com um domingo chuvoso, a goleada sofrida no clássico e nenhum analgésico para tomar antes de tentar dormir.<br />
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E passe mais uma noite em claro! <br />
Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-42810242098621466052017-03-27T23:22:00.000-07:002017-03-27T23:22:17.241-07:00Para vender sonhos é preciso fechar os olhos. Olhos claros sofridos, lágrimas secas pela tristeza, melodia da solidão, noites de luta sem sorrisos, dias amargos de ódio. <br />
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Um copo de alguma coisa sem gelo, flertes falsos, cigarros com pó e uma dança forçada. Sexo com alguém, e outro, quantas vezes, não existe fim. Nenhum abraço ou bom dia, apenas um chuveiro e uma Coca cola. Não precisa de almoço, mas sono. <br />
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Dinheiro de batalhas tristes, cortina cinza, velha, rasgada. Um beijo sem gosto, um tapa no rosto e muitos mundos diferentes, realidade assustadora, o relógio não para, o mundo também. Não existe nenhum modelo definido, cada qual com seu odor, suas frustrações ou desprezo. A rua não escolhe rosto, o caminho é curto e amargo. <br />
<br />
Beleza roubada sem poesia, vidas secas sem sol ou sertão, o telefone precisa tocar, ela aprendeu que para vender sonhos, é preciso fechar os olhos e esquecer qualquer forma de amor. <br />
Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-79198561908574618582016-10-06T08:09:00.000-07:002018-03-06T20:19:02.594-08:00O que o rádio toca?Antes do tocar do despertador, bem antes das buzinas e barulhos da cidade, ela estava em pé, tomando seu café com pão amanhecido, ouvindo alguma besta gritar palavras de ordens em uma estação de rádio qualquer. Eram palavras sem sentido, uma espécie de oração que preenchia um vazio, não existia mais ninguém naquele apartamento, apenas sua solidão.<br />
<br />
Ele dirigia rápido, julgava colegas mentalmente, e tinha nojo de tocar nas mãos das pessoas. Tinha sempre álcool em gel, muitas vezes estacionava em vagas especiais de idosos ou deficientes, era fã do comentarista de uma rádio popular que também gritava palavras de ordens. Era sua única companhia pela manhã. <br />
<br />
Agora era uma música, melodia animada, letra que contava a história de uma festa em algum canto, bebidas, traição, lágrimas e vingança. Na canção a mulher é ridicularizada e o cantor solta gritos histéricos sem sentido. Alguém ouvindo por ouvir, limpando um canto qualquer e pensando se teria tempo e dinheiro para almoçar.<br />
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No fim do expediente uma carreira esticada, mais um tiro, olhos fixos no espelho e mais uma noite. No carro o som das dez melhores do dia até o bar descolado. <br />
<br />
E nos solavancos do ônibus público, em pé, perdida em pensamentos e lutando contra o cansaço, no fone de ouvido ela desliga o rádio na "Hora do Brasil". <br />
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O que o rádio toca? <br />
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Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-81023635728927376642016-06-28T14:44:00.003-07:002016-06-28T15:14:34.374-07:00Fabiana tinha tantos defeitos... Ela nunca foi uma pessoa pontual, não era a mais bela das moças do bairro e muito menos das mais feias, tinha seu charme, ruiva, olhos claros. Bebia, fumava, gostava da noite, personalidade forte, inteligente, geniosa, muitas vezes até assustava seus amigos, amigas e admiradores. <br />
<br />
Um dia, Fabiana conheceu Orestes... <br />
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Moço alto, cabelos claros, inteligente e com ideais semelhantes aos dela. Não era muito da noite, calmo, bem humorado e com o coração machucado. Um rapaz muito educado, gentil e simples. Havia sido abandonado por outra mulher, depois de alguns carnavais, tinha o sofrimento no olhar.<br />
<br />
Dançaram uma vez, ela um pouco “alta” pelos drinques que já havia tomado, ele também. Era uma música antiga, eles se beijaram...<br />
<br />
E beijaram outras tantas vezes e muitas vezes...<br />
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Ela sonhou com um mundo melhor, ele também acreditava no justo, com igualdade para todos, com dias felizes. Lutavam por eles, por familiares e amigos, por todos. Um dia esse sonho trincou. O mundo deu “passa moleque” e ambos ficaram tristes e perdidos.<br />
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Orestes, ainda muito magoado daqueles antigos carnavais, foi aos poucos deixando Fabiana, esquecendo-se de sua presença, de seu cheiro e riso. Ela não queria aceitar, também tinha um coração baqueado, mas acreditava no olhar dele, para ela, aquele olhar melancólico, era o melhor do moço.<br />
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Fabiana não desistiu, recusou-se a jogar a toalha. Buscou, escreveu, sorriu e até chorou... <br />
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Ele foi ficando cada vez mais indiferente, distante, parecia que nunca havia conhecido aquela moça. Ela sofreu, ainda sofre, mas mudou a cor do cabelo, conheceu outras pessoas interessantes, continua tomando sua cerveja, ouvindo suas músicas, sorrindo para os amigos e de vez em quando, até recebe uns convites pra dançar...<br />
<br />
Fabiana tinha muitos defeitos, o pior era não saber esquecer... <br />
Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-85940654585878402792016-04-06T14:32:00.000-07:002016-04-06T14:32:06.301-07:00Uma quarta-feira qualquer...Acendeu a vela para enxergar o velho e querido rádio de pilha, companheiro único de suas noites de lua e chuvas. Fez uma curta oração, uma lágrima escorreu, sintonizou na estação predileta e antes da rápida voz ganhar espaço em seu quase vazio quarto, relembrou de glórias gravadas em seu peito, quando podia caminhar, correr, suar e cantar. A camisa surrada não lhe vestia mais, agora era um símbolo, lembrança de anos, quando mais lágrimas insistiam, teimavam em cair, eram secas pelo manto...<br />
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A narração do rádio era quase um tango, ora um samba, balão que subia e descia, um corpo de impedimento, uma cabeça salvadora, a defesa cantada e um grito suspenso. Em sua cabeça lembranças de sol escaldante, cimento quente, broncas e sorrisos e uma dança suspensa de bandeiras e papéis picados, canções importais. Ainda podia sentir o cheiro da grama molhada em noites de chuvas, do barulho das solas de sapato em noites de derrotas e principalmente da folia e abraços dos amigos que ficaram apenas nestas lembranças<br />
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Em uma rápida troca de passes, deixando confuso até mesmo seus pensamentos, o baque no peito e um grito de gol, era deles, não era poesia, sim tragédia, como um soco no estômago, sem ar, mentalizou um xingamento qualquer e ouvindo os detalhes do repórter de campo, culpou alguém pela raiva.<br />
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O sofrimento corria em suas veias, ouvia que nada dava certo e imaginava cada momento, será que poderia fazer alguma diferença seu coração batendo mais forte? Desespero era o que sentia, uma tristeza por não estar presente e pensava, que se lá estivesse, seu coração bateria tão forte naquele estádio que deixariam os adversários surdos. Neste momento outro grito e o som da massa ao fundo, era a música do gol, muitas lágrimas, o beijo no escudo, o agradecimento para todos os deuses...<br />
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Antes do apito final começou a fazer contas, não para o café do dia seguinte ou almoço, mas para a classificação. Aliás, nem lembrou que naquela quinta-feira seguinte teria que mesmo com dificuldades para andar, defender algum trocado, que dependeria de outros para tomar um café qualquer.<br />
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Foi dormir feliz, abraçado ao seu manto sagrado pois em suas contas, mais três pontinhos já garantiria seu time na próxima fase, e nada para aquele velho coração torcedor era mais importante naquela noite. Apagou a vela, deitou ao som dos comentários do rádio, antes de dormir, desligou e dormiu o sono dos justos e sinceros torcedores de futebol. <br />
Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-40388701762462023502016-03-31T08:21:00.000-07:002016-03-31T08:21:10.473-07:00Um cidadão de bem Acordou às seis da manhã, com muito sono ainda e reclamou sozinho, olhou novamente para o telefone celular e resolveu levantar. Ainda abrindo os olhos, fez um sinal da cruz e mentalmente uma oração. Enquanto tomava um banho pensou em um colega de trabalho, “aquele filho da puta”, depois na colega, “aquela gostosa exibida”, raiva surgia, não relaxava. Fez seu próprio desjejum, café com leite e pão na frigideira, olhou seu carro popular e mais raiva sentiu, era calor e não tinha ar condicionado. <br />
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Ouvia no trajeto um jornal de uma famosa rádio, seu locutor parecia espumar de ódio, gritava, era possível imaginar o ser possuído pela ira, poucos argumentos e fatos, muita histeria e nesse clima chegava ao trabalho, sua cabeça já doía e seu humor inexistia. Olhou o colega, deu um bom dia falso, cobiçou com os olhos a colega, a imaginou nua, e depois sentiu um misto de raiva e tristeza, tinha a exata consciência que apenas pagando poderia ter um em seus braços uma mulher como aquela. Seus pensamentos na essência eram perdedores, já começava o dia derrotado.<br />
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Quase não rendia em seu trabalho. Almoçava sempre só, um prato feito, copo de suco de laranja quase sempre. Não olhava nos olhos de quem o servia, evitava sentar próximo de mesas com crianças. Tomava café, fumava um cigarro, tossia bastante, e voltava para o trabalho ainda com uma certa dor na cabeça.<br />
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Não expressava suas opiniões, mas era contra qualquer programa social, colocava-se como exemplo, “trabalho muito para sustentar vagabundo” ou “tem vaga garantida por ser preto, isso não pode!” E quando olhava o colega de trabalho lembrava, “esse macaco só pode ter chegado até aqui através dessas malditas cotas”.<br />
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Ao sair do trabalho, parou em um shopping center, não tinha vagas para estacionar, pensou, “malditas vagas para aleijado e velhos”, parou em uma delas. “Eles não podem me multar mesmo”, pensou. Comprou comida pronta, cigarros, algumas latas de cerveja barata e uma revista de grande circulação. “Bosta de país, tem que matar essa gente toda”, foi o que veio a sua cabeça ao ver a capa. <br />
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Em casa, após uma refeição rápida, começou a beber uma cerveja e em sua solidão quarentona passou a conversar com o apresentador do jornal que assistia na TV, comentava cada notícia com muitos palavrões. Entre um gole e outro, preenchia relatórios falsos de sua empresa, “eles não irão nem sentir esse dinheirinho que vai me ajudar muito”, e mentalmente se auto eximiu de qualquer sentimento de culpa, “é a crise”. <br />
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Ao fim do jornal, mudou de canal, “não assisto novela, não sou alienado” e na terceira latinha sentia-se privilegiado por assistir uma série americana, “esse gato net foi um puta investimento”. <br />
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Era sexta-feira, por volta das 22h, sentiu-se incomodado com a música que vinha da casa dos vizinhos, “filhos da puta fazem festa sempre, devem nadar em dinheiro”, ligou várias vezes para a polícia para reclamar. Acabou sendo atendido e percebeu o som diminuir. Sem sono já entregue a sua sexta ou sétima latinha de cerveja, acendeu mais um cigarro e em silêncio foi até o quintal, ouviu a música baixa e alguns risos e uma rápida conversa entre os vizinhos, “deve ser o chato aqui do lado, não gosta de animais, de crianças, vive de cara feia, é sozinho e qualquer festa, liga pra polícia... É a vida dele deve ser uma merda!” <br />
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Risos menos contidos. Ele então olhou para a parede, praguejou, tomou o restante das latinhas e foi tentar dormir. Antes fez uma oração e um sinal da cruz, considerava-se acima de tudo um cidadão de bem. Ainda ficou remoendo aquela raiva antes de pegar no sono, que só veio depois por estar quase embriagado. <br />
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Sábado, o cidadão de bem não tinha nenhum convite, nenhum plano... Tinha de fato, uma vida de merda. <br />
Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-5408156868446772592016-01-28T03:44:00.000-08:002016-01-28T03:44:02.480-08:00Primeira Liga - Um Frankestein de Insatisfeitos É errada, um equívoco.<br />
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Mas pode ser um começo...<br />
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O futebol assim como na vida precisa do irmão mais próximo, daquele que você conhece desde suas primeiras palavras, que gosta de roubar o brigadeiro ou vencê-lo impiedosamente no jogo de botão ou Fifa. Precisa daquele vizinho que mora do lado, que você empresta a bola e não devolve, que te ajuda na discussão com o pessoal da rua de cima ou que saia na mão contigo seja por qualquer motivo.<br />
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O Flamengo precisa do Fluminense, ele é seu irmão, do Vasco, ele é seu vizinho. Precisa do Corinthians, ele é o carinha chato da rua de cima, o Santos, é o mala da rua ao lado... O Grêmio é irmão do Inter, meio "brother" do Avai e troca uma ideia com o Coritiba, moram no mesmo bairro. O Atlético é irmão e vive brigando com o Cruzeiro, ambos moram na rua mais acima que o Palmeiras, que é vizinho do São Paulo e moram na mesma "quebrada" que o Corinthians...<br />
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Todos vivem na mesma cidade, uma tal de Brasil, mas em bairros e ruas diferentes, e algumas até distantes... O campeonato da cidade é o mais importante (isso sem contar os campeonatos de fora...), mas aquela rivalidade de bairro, de vizinho é essencial para sobrevivência de todos.<br />
Sem analogia, indo direto ao fato, a chamada "Primeira Liga" é um "Frankestein" de insatisfeitos com razão. É preciso romper, é preciso gritar! O cartolismo de algumas instituições é mais que arcaico. Mas é preciso mais! É preciso que a Copa Sul exista, que a Copa Sudeste seja criada, assim como já é sucesso a do Nordeste e Verde (Norte).<br />
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Para o torcedor (sem colocar os fatos políticos na discussão), não é possível, não é aceitável não ter o Vasco e o Botafogo. E ver um Atlético Paranaense e Fluminense antes da hora...<br />
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A cidade Brasil cresceu demais, nossos estaduais precisam continuar, mas que sejam classificatórios para as copas regionais. Como torcedor do Esporte Clube Taubaté (mora ali, pertinho da rua dos paulistas), tenho certeza que "demoraríamos" mais para jogar contra os vizinhos grandes, mas que seria muito mais empolgante ver um Flamengo, um Cruzeiro no "Joaquinzão" daqui há alguns anos.<br />
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Pode ser utópico, mas como escrevi, apenas uma ideia.Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-79166883843835431592015-10-01T11:04:00.000-07:002015-10-01T11:34:03.894-07:00Ele nunca teve escolhas Sebastião de Jesus tinha 22 anos, era preto, quase escravo, bebia, fumava, roubava para comer e servia aos seus. <br />
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Não conhecia o pai, não sabia quantos irmãos tinha ao certo, era batizado mas não rezava, não praticava esportes, mas corria muito rápido. Nunca teve escolhas, sobrevivia desde seu primeiro dia no mundo<br />
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Aprendeu a atirar, sabia golpear com facas, adagas e até espada, tinha em seus ombros incontáveis vidas de inimigos anônimos, todas essas sem nenhum peso em seu coração. <br />
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Em uma tarde de dezembro foi cercado e morto, sofreu, foi espancado, torturado e não teve nenhum julgamento oficial. Ele não foi executado por justiceiros, polícia ou pela população enfurecida depois de mais um linchamento. <br />
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Sebastião, preto, pobre, bêbado, fumante, ladrão, assassino, foi enterrado no mesmo local, com honras militares e a bandeira do Brasil. Era mais um herói de guerra no Paraguai. Ou seria mais uma vítima?<br />
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Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7346041046478061821.post-59008039384875184262015-06-17T12:37:00.000-07:002015-06-17T12:37:42.812-07:00Moderno Zeppelin II Letícia corria na chuva fina, uma rua reta, vazia, na noite fria, pés molhados e cansados. Lágrimas congeladas de junho, cabeça girando entre demônios e pessoas, e um gosto de sangue na boca. Suas mãos parecem determinadas, expressão sofrida e passadas regulares pelo asfalto cada vez mais alagado. Alguns carros passam, ela e eles não se enxergam, sem fones no ouvido, apenas sons de gritos e desespero...<br />
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Chutaram suas pernas e tronco, cuspiram em seu rosto, pedradas nas costas, a humilhação é quase uma bondade quando cortaram sua boca, quebraram alguns ossos, mutilaram a genitália e pauladas acabaram deixando-a quase morta em um canto qualquer<br />
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Dias depois, o corpo apodrecia. <br />
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Era pecadora ou pecador, aos olhos de seus carrascos um ser mutante, feita para apanhar e boa de cuspir, não precisava de nenhum outro Zeppelin. <br />
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A corrida já era de outra vida, com sua morte simples, ninguém se importou. <br />
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Letícia não sabe que existe lua. Não espera o sol, nenhum dia deverá nascer. <br />
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Fabricio Junqueirahttp://www.blogger.com/profile/02072252796893116241noreply@blogger.com0