Letícia corria na chuva fina, uma rua reta, vazia, na noite fria, pés molhados e cansados. Lágrimas congeladas de junho, cabeça girando entre demônios e pessoas, e um gosto de sangue na boca. Suas mãos parecem determinadas, expressão sofrida e passadas regulares pelo asfalto cada vez mais alagado. Alguns carros passam, ela e eles não se enxergam, sem fones no ouvido, apenas sons de gritos e desespero...
Chutaram suas pernas e tronco, cuspiram em seu rosto, pedradas nas costas, a humilhação é quase uma bondade quando cortaram sua boca, quebraram alguns ossos, mutilaram a genitália e pauladas acabaram deixando-a quase morta em um canto qualquer
Dias depois, o corpo apodrecia.
Era pecadora ou pecador, aos olhos de seus carrascos um ser mutante, feita para apanhar e boa de cuspir, não precisava de nenhum outro Zeppelin.
A corrida já era de outra vida, com sua morte simples, ninguém se importou.
Letícia não sabe que existe lua. Não espera o sol, nenhum dia deverá nascer.
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