segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ídolo de Verdade

Craque de verdade arruma o meião, pisa no gramado, toma pancada, bate, luta, dribla, marca gols e no fim da partida, ganhando ou perdendo, olha de cabeça erguida para seu torcedor. Ele da entrevistas no fim da partida (não foge pelas portas dos fundos), é quem dá a cara para bater quando nada está indo bem, ou é o primeiro a ser reverenciado por seus fãs nas vitórias. Esse jogador não precisa ser mágico, não precisa dar passes milimétricos ou fazer jogadas imortais, veste a camisa e luta por ela como se fosse sua vida. Ele sua e chora sangue (sem exageros), representa mais que um simples jogo, representa o sentimento de uma instituição, de muitos corações.

Esse jogador é antes de tudo gente, que acerta e erra, mas com verdade nos olhos, dentro ou fora de campo. É o cara que recebe muito bem pelo que faz, mas faz com um amor comovente, que acaba sendo símbolo para gerações, para uma história toda. O atleta, pode até sair, defender outra instituição, mas quando consegue ser o que as linhas acima descrevem durante um bom tempo por um clube, ele acaba encarnado para sempre com aqueles cores, com aqueles sonhos e momentos felizes e tristes. É um ídolo real, gente que vibra e sofre, não é uma sigla ou um fantasma

Um desses ídolos de verdade, já parou sua luta dentro das quatro linhas há alguns anos. Defendeu outros clubes, e hoje tem o privilégio de opinar, de apontar erros e acertos, sempre com a mesma verdade nos olhos dos anos anteriores, dos tempos de jogador.

Foram tantas alegrias no campo, foram tantas alegrias fora de campo, também tristezas. A vida às vezes é cruel com as pessoas que a encaram de verdade, que não tem medo de viver, mas não é, e nem será cruel para sempre, e não foi. Esse ídolo há anos mudou para o outro lado do balcão, trocou o calor do estádio lotado pelo gelo do ar-condicionado dos estúdios.

Quantas vezes em minhas memoráveis partidas de futebol de mesa, esse ídolo fez memoráveis gols, artilheiro nato. Quantas goleadas, quantos passes de Sócrates e Zenon... Em minha memória infantil não havia espaço para empates e derrotas, apenas vitórias e festas em preto e branco. Na vida real, lembro de gols contra o grande rival verde, contra tricolores e o outro alvinegro. Lembro até de quando ele jogou do outro lado e perdeu em Taubaté.

Foi ao lado do Doutor e do Biro-Biro meu primeiro ídolo, um dos responsáveis por um coração alvinegro declarado e sempre feliz.

Walter Casagrande Junior é real, é de carne osso, tem história, tem vida, passado e futuro.

Seus comentários no último domingo e nesta segunda-feira, sobre clubes fantasmas, sobre essas aberrações do esporte que mudam a camisa e o nome como mudamos de cuecas e meias foram de uma maestria de quem fez os gols mais legais dos anos 80. Sua ironia, questionando se tal clube havia ganhado algum título no ano passado, se tal clube tem torcedor, foi verdadeira. A voz de milhões de apaixonados por futebol, o pensamento de torcedores que estão perdendo o brilho no olhar, que estão tirando o pé e concluindo que se continuarmos assim, não teremos mais verdade, paixão, suor, lágrimas e história no futebol.
Não teremos mais torcedores, não teremos mais ídolos como Casagrande, e nem textos como este.

Valeu Casão, mais um golaço!

7 comentários:

  1. Texto fino, de jornalista que pisa no gramado, toma pancada, bate, luta, dribla, marca gols...

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  2. Texto de um craque da crônica esportiva! Parabéns!

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  3. Falar o que mais?
    Toda vez que começo ler um texto seu, é certeza de que estarei lendo algo muito bom.
    Confesso que o Casão não é um ídolo pra mim, mas que ele foi muito competente com seu comentário sobre os clubes empresas, ele foi! Tão competente como o seu texto muito bem escrito.
    Um abraço meu amigo!

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  4. Mais um belo texto hein Fabricio, como nascem idolos, nascem pessoas com esse dom de textos maravilhosos, parabéns!

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  5. Novamente, hoje, durante a transmissão de Santos e Grêmio Prudente o assunto veio a tona, a incomodar.
    É lastimável que o Futebol, a paixão nacional tenha que conviver com clubes nômades à mercê de negócios mágicos. Assim como, é um péssimo exemplo à juventude, os times chupins, sem identidade, sem caminhada, que atropelam a ética e o bom senso, quando se instalam na a história de outrem.
    Marina

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  6. Agradeço à todos pelos elogios e obrigado Marina pelo excelente comentário.

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