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terça-feira, 24 de julho de 2018

As cores de um sábado na quebrada

A luz do sol quase cegava a vista já embaralhada depois de tantos socos, depois de chutes... Uma poça de sangue era o contrataste em cores daquela calçada sem cor, seca e quente. Pensamentos perdidos, estímulos para tentar se mexer e recebeu mais uma pancada, dessa vez de uma barra de ferro, agora a mente apaga, volta, apaga, vem um sono...

Era apenas mais um dia quente no inverno seco de São Paulo. Mais um final de semana em uma das tantas “quebradas", tinha pastel, o caldo de cana, cigarro, e um corte na cachaça do “parceiro”. Mais resenha, depois veio o espetinho, uma cerveja gelada, apareceu alguém com um “fino”, um tapinha, risada, futebol, as mulheres, os “trampos” e “corres”, pagode alto, barulho do ônibus e a poeira subindo. As meninas também colam no rolê, a amizade é firmeza e rola o respeito.

O sábado pintava em cores diferentes a realidade cinza de jovens, crianças, adultos, do povo daquele pedaço de chão. Tinha pipa no ar, jogo de baralho na mesinha da praça, vendedor de sorvetes, um pregador religioso aos berros, bancas de mídias piratas, roupas, camisas de times, frutas e até livros. Um colorido de felicidade, de luzes e sons e sorrisos.

Um sobressalto no peito e um grito no ar, o colorido volta a perder a cor, as pessoas correm desordenadamente, uma criança em prantos é “resgatada” por alguém, carros acelerando, motos barulhentas e o sábado agora é feito em socos, pedras, chutes, barras de ferro e madeira... A quebrada foi invadida e ninguém teve tempo para nada, era um acerto de contas, nenhum tiro, alguns correram, a pouca polícia assistindo, tudo muito rápido e o jovem dormiu entre a calçada e o asfalto, ninguém sabe se ele acordará, ninguém.


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