Total de visualizações de página

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Ela estava certa, foi preciso mudar o samba...


Ela estava certa o tempo todo. 

O samba atravessado, rápido e com rimas fracas seria mais um desfile sem brilho, com muita transpiração e pouca inspiração, quase como tinha sido nos últimos carnavais. Era o momento de entender a realidade, descobrir que a falta de recursos deveria ser encarada como uma grande chance de inovar, que do chão trincado da quadra ainda brotava alegria e que mesmo no pior momento, o sonho não poderia parar. 

Então mudaram a comissão de frente, uma coreografia mais simples, mas muito bem ensaiada, o carro abre alas também ganhou um chamado "toque minimalista" e acabou combinando melhor com a comissão, com isso a escola começou a ganhar não só um novo corpo, mas uma nova alma. 

Cada diretor de ala entendeu o recado, alguns cansados passaram o bastão para os mais novos, que chegaram com uma vontade gigante em fazer o melhor para aquela velha, porém querida escola. Começaram também a mudar a forma de desfile, tentando diminuir erros de evolução e harmonia. Os carros foram reformados, as fantasias passaram a ser pensadas com mais carinho, passistas se empolgaram e o povo do barracão trabalhou ainda com mais afinco. 

No coração da escola o velho e apaixonado mestre ganhou um parceiro, a bateria mesmo com instrumentos cansados manteve a paixão e ganhou jovialidade, a comunidade sentiu o chamado logo nos primeiros ensaios, era um toque, um batuque conhecido, mas com um encanto diferente... 

Ela estava o tempo todo certa! Era preciso mudar o samba, reconhecer seu povo, ficar mais leve, divertida, simples, mas sem perder o glamour e a imaginação. E naquele Carnaval, a velha escola conquistou seu mais importante título, a escola e seu povo se reconheceram, se identificaram e voltaram a se apaixonar... 

Pouco importa quem ganhou o carnaval, a vitória daquele povo foi maior que qualquer nota de juiz. E foi ela quem avisou, o samba estava atravessado!

segunda-feira, 13 de abril de 2020

As tardes de domingo em 1988


A macarronada da minha avó Jacyra estava divina, sentada em seu quarto a tia Benê com o radinho ligado ouvia as informações do jogo da tarde, o seu Orlando Vermelho (meu avô) falava sobre as eleições daquele ano com o Tio Fábio e a minha prima Alessandra fazia uma tremenda onda para comer seus nuggets… Eu tomava com muito gosto meu último gole de "Coca-Cola".

Naquela época, aos dez anos eu já adorava política, vivia aquilo como o futebol. Éramos torcedores do Miné, não era só uma eleição para prefeito, era como se fosse um clássico no Morumbi lotado. Mas naquele domingo a pesquisa da Gazeta de Taubaté pouco me importava, muito menos o que o Salvador (o outro candidato) tinha dito.

Naquela tarde, levantei rápido da mesa, tomei alguma bronca de leve do Seu Orlando, a tia Edna deve ter falado algo também, e a Vó perguntou se meu pai vinha me buscar, respondi que sim e que o Tio Tadeu também iria com a gente. Enquanto o tio despedia dos demais, eu já estava sentado na mureta na porta da casa. Não demorou muito e meu pai com sua "Variant" branca ligada na rádio passou para nos pegar rumo ao estádio… Naquela tarde paramos perto da casa da Tia Ivone, atravessamos a linha e de cara deu para observar, a "Casa" estava cheia!

Era o momento mais feliz de todos para um garoto de dez anos… Nem mesmo o hambúrguer da "Fino Coffe", a pizza do "Convênio" ou mesmo a piscina ou partidas de futebol de salão na AABB, nada era mais legal que aquele clima de "Joaquinzão". Tinha gente apressada, barulho de fogos, vendedores de laranja já descascada naquelas redinhas amarelas, tinha bandeiras, de todos os tamanhos e modelos, sempre nas cores azul e branca. Nessa época ficávamos atrás do gol de entrada, às vezes encontrava no caminho ou já lá no estádio com os amigos, era o Leandro, Rodrigo, os irmãos Miragaia, o Reginaldo santista do "Dom Pereira", o Dimas (que vivia querendo bater em mim), tinha o pessoal da Vila Marli que ficava perto da Torcida Explosão (que depois fundaram a Dragões)

Geralmente fazia muito sol, eu e meu irmão Fabinho, estávamos sempre com bonés e nada nos faltava, laranja, refrigerante, picolé, água… E o palavrão do portão do estádio para dentro era liberado! O time entrava em campo com muitos rojões (grande Maciel) e com cinco minutos de bola rolando o talco ou pó de arroz fazia uma fumaça branca… A bandinha de carnaval vinha tocando o tradicional "poropópó", e o povo ia se levantando, a Explosão abria caminho para seu lugar na arquibancada.

Em campo nosso time era ótimo! Meus ídolos eram o Marcelo (goleiro), o Neto, Alberto, Careca, Miguelzinho e Reinaldo Xavier. Meu pai era fã do Alencar nosso camisa cinco. Tinha também o Daniel, Fagundes, Ailton… Como era legal!

Não vou lembrar do empate contra o Catanduvense que nos tirou a chance de subir. Aquele campeonato de 1988 foi muito maior que aquele jogo!

Foi a primeira vez que a minha geração viveu com tanta intensidade um campeonato, o time da cidade passou a ser nossa prioridade. O Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos passaram para o segundo plano. Nossas conversas eram sobre o Taubaté. No rachão da rua ou na quadra improvisada da escola, éramos o Burrão da Central, até a minha capa da prova foi um desenho da nossa torcida com faixas das torcidas Explosão e Camisa 14.

Naqueles domingos de 1988 aprendi a ser torcedor de verdade. Não subimos, o nosso candidato a prefeito perdeu feio a eleição e um pouco depois meu pai foi transferido para Santos (onde acabei passando uma temporada). Talvez, tenha sido uma época complicada para os meus pais, hoje sei que o momento econômico do país era péssimo, mas mesmo sendo curioso e leitor voraz da Folha em casa e do Diário Popular no meu avô, eu ainda era um menino que sonhava em ser jogador de futebol e gostava da Vanessa que morava perto da minha antiga casa na Monção (Gláucia você foi um ano antes) e tenho essa época guardada com muito carinho no coração.

Em 1988 foi assim, teve o título do Timão com o gol do Viola, tinha as aulas de judô, teve as olimpíadas de Seul, a querida professora Maria Imaculada (que hoje mora no céu), ainda jogávamos Atari e fazíamos fabulosos campeonatos de futebol de botão, mas nada foi mais marcante que as tardes de domingo no Joaquinzão…




Foto: Pedro Nogueira

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Ela...

Ela parece sol que não queima, que ilumina, que deixa a cabeça fresca e o coração mole. É água de coco gelada, suco de abacaxi com hortelã, mas também é tequila, com limão e sal

Deixa as pernas moles, ideias bambas, as vezes bolero, tango e rock! Me confunde, explica, excita e encanta, parece dança, um samba, de muitas notas que toca nos sonhos

Vida e flores, seja livre, somos livres, juntos.
Poesia e crônica, fotos e livros, linda imagem, doce sensação!