O samba atravessado, rápido e com rimas fracas seria mais um desfile sem brilho, com muita transpiração e pouca inspiração, quase como tinha sido nos últimos carnavais. Era o momento de entender a realidade, descobrir que a falta de recursos deveria ser encarada como uma grande chance de inovar, que do chão trincado da quadra ainda brotava alegria e que mesmo no pior momento, o sonho não poderia parar.
Então mudaram a comissão de frente, uma coreografia mais simples, mas muito bem ensaiada, o carro abre alas também ganhou um chamado "toque minimalista" e acabou combinando melhor com a comissão, com isso a escola começou a ganhar não só um novo corpo, mas uma nova alma.
Cada diretor de ala entendeu o recado, alguns cansados passaram o bastão para os mais novos, que chegaram com uma vontade gigante em fazer o melhor para aquela velha, porém querida escola. Começaram também a mudar a forma de desfile, tentando diminuir erros de evolução e harmonia. Os carros foram reformados, as fantasias passaram a ser pensadas com mais carinho, passistas se empolgaram e o povo do barracão trabalhou ainda com mais afinco.
No coração da escola o velho e apaixonado mestre ganhou um parceiro, a bateria mesmo com instrumentos cansados manteve a paixão e ganhou jovialidade, a comunidade sentiu o chamado logo nos primeiros ensaios, era um toque, um batuque conhecido, mas com um encanto diferente...
Ela estava o tempo todo certa! Era preciso mudar o samba, reconhecer seu povo, ficar mais leve, divertida, simples, mas sem perder o glamour e a imaginação.
E naquele Carnaval, a velha escola conquistou seu mais importante título, a escola e seu povo se reconheceram, se identificaram e voltaram a se apaixonar...
Pouco importa quem ganhou o carnaval, a vitória daquele povo foi maior que qualquer nota de juiz.
E foi ela quem avisou, o samba estava atravessado!